30/09/2012

PASSARAM SEIS ANOS...

  Se me perguntam porque espero ou o que espero, não sei dizer.
  O que sinto é que ainda não é isto.
  O que sinto é que caminhei tanto para alcançar o que pensava ser o que desejava e agora, que olho o mundo do cimo da montanha, vejo que afinal... não quero tanto assim.
  Afinal, sou feliz com muito menos. Preciso apenas de sentir, preciso apenas de acreditar, de sorrir. Preciso da liberdade, aquela que me faz sentir que não tenho nada a perder.
  Foi sempre assim que vivi, numa corda bamba, a "pagar para ver" se caía ou ganhava asas para voar. Quase sempre caí. E levantei-me. Por acreditar que talvez amanhã, quem sabe, durante a queda, consiga voar.
  Viver a arrumar histórias e a começar outras... ir depressa demais e outras vezes não ir sequer.
  Chorar porque rio e a rir porque choro. Com este coração que não me cabe no peito... e reconstruo-me assim por dentro, devagar.
  Recordo um provérbio que li um dia que dizia algo como "quando chegasse a um momento em que me sentisse, de tão cansada, incapaz de dar um passo sequer, teria chegado precisamente a metade do caminho que serei capaz de percorrer"... Talvez seja verdade. A coragem surge sempre algures, nessas coisas que nos escapam ao primeiro olhar...
   
  Mas é a falta... a falta do toque que sabemos ser por amor. A falta de alguém que nos trate bem, que nos mime, que esteja lá, simplesmente. Mais que namorado, marido ou amante. Companheiro. O porto para o qual sabemos sempre poder regressar. O ter alguém à nossa espera. O esperar por alguém. O último telefonema do dia. O último desejo de boa noite. A cabeça no descanso de um peito que se move devagar. O silêncio. A mão e o corpo entrelaçados noutra mão, noutro corpo. O beijo. O riso. O chamego. O aconchego. O partilhar. Alguém para escutar. Alguém que nos escute. O dividir. O acordar cedo porque há tanto por viver... para viver. A tranquilidade das manhãs de domingo. As tardes de aconchego no sofá, entre mantas, chás, lareira, cães e gatos. As noites de travessuras. Cumplicidades... e o Amor sempre escondidinho, ali perto, à espera do momento para gritar. E quantas vezes que não se ouve.

  Por vezes a falta pesa.
  A falta de coisas banais... como o Amor.
  O Amor que quando não morre, mata.
  O Amor que muitas vezes, por desistir de nós, nos obriga a desistir dos nossos sonhos.
  Sempre o Amor, que por ser tão odiado é tão procurado. E nessa procura, ele a bater à porta, de mansinho, e nós distraídos à procura dele.
  Quantos sentem falta? E de quê? Ninguém fala das faltas que sentem, das saudades que têm.
  A verdade é que não se fala do que se sente... Medo? Talvez. O que é bonito silencia-se e grita-se o feio. É sempre mais fácil magoar que dizer que se quer muito bem.

  Eu sinto falta de muitas coisas... até de receber uma carta verdadeira, em envelope fechado com o carimbo dos correios e tudo. Sem ser em correio azul, que parece ser urgente demais... mesmo que fosse uma carta que começasse por "minha querida Anita"... Saudade das coisas mais pequenas e simples.

  Saudade.
  E a saudade só faz com que espere. Espero o dia em que a possa matar, para sentir aquele sorriso que nasce inocente, por uma ternura que vem do peito, cá de dentro, devagarinho... só para sentir que todo o tempo de espera não foi em vão.

  A verdade é que sempre segui pelo melhor caminho, o único que naquele instante poderia seguir. Parece-me agora que sempre o mais difícil.

  Hoje que penso nas perdas, nas faltas, na saudade, nas esperas constantes, vejo que perdi muitas almas, mas nunca a minha... perdi muitos corpos, mas nunca o meu... perdi alguns (poucos) homens, mas nunca o Amor. Aquele que continua cá no fundo, onde faz eco.
  O que espera.
  Apenas.




Fez seis anos, a vinte e um de Agosto, que escrevi este texto, noutro cantinho onde passava muito tempo na altura...

Passaram-se seis anos.

Ainda espero...









(curiosamente, encontrei este texto reproduzido na net em quatro sítios diferentes, em datas posteriores, como se fosse pertença das respectivas donas das páginas... sinto-me violada :-/)
  

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